sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

da "Sordidez das pequenas coisas" às estradas imaginárias de uma viagem sem fim.

primeiro passo, sp, janeiro de 2011
então veio o encanto.
pela capa, pelas fotos ou pelo título

folheio algumas páginas, resolvo então começar a seguir o caminho e embarcar na história.

pág 35, 29/01/2011, 14:30h, sp - metro Bresser/ Mooca
"ele sabia que era a parte mais dolorida. Na conversa, o único problema era encontrar as palavras mais adequadas. As que doessem menos e significassem mais, em menor quantidade. O vazio e a sensação de que faltava , para encerrar magistral. Algo. Era o fim e só"
com o pouco que lia nas primeiras páginas já estava no caminho sem volta, o que restava era seguir em frente e ver até onde a estrada levaria.
"sempre é fácil se perder quando se quer, ainda mais tão compenetrado como se em uma fotografia"

pág 47, 16:26h, terminal rodoviário de Boituva/SP
Era um terminal simples, todo verde. Tinha homens, idosos, um sorveteiro cansado, crianças, lanchonetes com donos de aparência triste. Despedida com abraços fortes e choros, é pai, filho, marido , irmão. Gente apressada, gente sem pressa, é hora de partir. Era apenas uma janela que separava o real do imaginário, porém sentia na pele todas essas sensações e reações, como se estivesse ali, bem ali.

pág 51, 17:40h,
o ônibus para, desce todos os passageiros e o bando vai até o de sempre: uns para lanchonetes, outros até o banheiro e o restante tenta encaixar aqueles poucos minutos para tentar fazer os dois. O bando sobe aos poucos, acompanhados com suas sacolas cheias de salgados gordurosos, comendo
na imensidão da fome, como se tudo fosse novo, comem como se fosse a última fome.
Liane ou Aline?

pág 69, 20:05h, Ourinhos/SP
rodoviária bem simples, não muito grande, homem com aspecto rural empurrando sua bicicleta, lentamente. Casal de idosos de mãos dadas. Sem ônibus, sem gente, sem pressa.
"Talvez fosse somente impressão nossa e tudo continuasse igual"

pág 79, 21:49h, rodoviária de Assis/SP
Ao lado uma mulher com sotaque de mineiro com sertanejo, que não para de falar um minuto. Acabo de tomar um energético, agora tudo que eu queria era dois calmantes para não ter que ouvir tanta história sem fim.
"é verdade que a chuva que cai tornando mais fresca esta noite é um convite para o bom sono"

pág 80,
lendo as músicas do Gero Camilo, assim, baixinho no ouvido, para o sono não chegar.
"faz um pedido"

pág 81, 30/01/2011, Campo Grande/MS, 06:44h
ônibus parado por estar "adiantado", um café pra ficar feliz.
"há qualquer coisa na luz que parece alterar a percepção conforme o ângulo em que o observamos"

pág 83, 7:00h
vendo pela janela o sol acordando e acordar as pessoas do ônibus com seu calor.
"E o cheiro é o mesmo de sempre, é idêntico de quando com três anos. Sentir esse cheiro que vem da sua nuca é um conforto, como mirar de ima o redemoinho do cabelo castanho e desgrenhado, porque ele olha para frente, porque ele não me encara e eu ainda não sei o que fazer para quebrar o silêncio."
"Por que vou perder esses instantes querendo me proteger,"

pág 101,
uma casinha simples com um letreiro: Garaparia
estrada de barro vermelho com poças d'água, volta o asfalto.
"Camila não sabia ao certo por que se encontrava na estação rodoviária àquela hora da madrugada, esperando o ônibus para um lugar onde não tinha muita certeza
se estava querendo ir. Foda-se, pensou."
"Existe uma janela para se tomar decisões importantes"

pág 147, 9:36h
(...)

pág 150,
O céu tá limpo, azulzinho e no meio uma porção de nuvens aglomeradas, com se alguém estivesse varrendo para juntá-las e depois apanhar com uma grande pá.
vacas meio magras, meio gordas e casinhas simples, sem reboco. Muito verde, muita estrada, muito silêncio.

pág 160, 10:23h, Rio Verde/Goiás
Não importa o lugar, o tamanho, a distância, sempre você encontra uma igreja evangélica a cada dois ou três quarteirões. Fé demais, ou..?
"havia uma espécie de suspensão de juízo, um não querer progredir, porque afinal, sabia-se onde aquilo iria dar.

pág 169, 10:48h (estrada)
O fim. Não da viagem e sim do livro. Me despeço agora destes que me fizeram companhia durante esse tempo. Aline, Liane, Lorenço, Tia Dedé, Virgílio, Dona Ataíde entre outros.
Com eles me senti dentro de um ônibus, em uma longa viagem, onde desde o começo, com toda curiosidade aflorada fui conhecendo e ouvindo as histórias de cada um. E agora vou partir
para o próximo, deixando-os aqui. Ainda faltam 7 horas para chegar lá.